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Do imaginário à descoberta dos planetas


Mário Saturno

O sol e as estrelas sempre despertaram fascínio e temor na espécie humana. Nossos mais longínquos antepassados associaram ao sol a fonte de calor e luz, personificando-o como um deus. O céu noturno foi lentamente povoado de deidades.
Com o tempo, viram que nem todas as estrelas estavam fixas, havia sete viajantes (planetas em grego). Um era o sol. Outro era a Lua, que muda a cada quatro semanas.
Dois deles só são vistos próximos ao sol, no entardecer ou amanhecer. O mais rápido foi chamado pelos gregos de Hermes (Mercúrio em Latim). O segundo, o mais brilhante, assemelhava-se a uma pedra preciosa, por isso chamado de Afrodite (Vênus), a deusa do amor e da beleza.
O seguinte, tem uma coloração avermelhada, associado ao sangue e à guerra, cujo deus é Ares (Marte). A seguir, vem o planeta mais brilhante do céu durante todas as noites, recebeu o nome do governante dos deuses, Zeus (Júpiter). O último, era o mais lento e de brilho fosco, batizaram-no com o nome de um deus idoso, Kronos (Saturno).
Por coincidência, eram sete os planetas, sete os metais (conhecidos então) e sete os dias da semana (definido pela Lua). Assim, cada metal foi associado a um planeta: o ouro ao sol, a prata à lua, o cobre (naquele tempo raro e precioso) a Vênus, Mercúrio ao próprio (por ser líquido e de rápida movimentação), o ferro a Marte (as armas eram de ferro), o estanho a Júpiter e o chumbo a Saturno (daí a doença ser chamada saturnismo).
Para os gregos (Atenienses em especial), o universo fora criado por divindades, assim era lógico supor que deveria cumprir certas regras. A Terra seria o centro do universo e todas as estrelas e planetas a orbitavam (do Latim circular).
Porém, o desenvolvimento da matemática e das técnicas de observação levaram o astrônomo e padre polonês Nicolau Copérnico, em 1.543, a propor um sistema diferente: o sol seria o centro do nosso sistema planetário circundado pelos planetas (inclusive a Terra). Somente a Lua orbitaria a Terra.
Copérnico imaginava que as órbitas eram círculos perfeitos. Então, em 1.609, Johannes Kepler demonstrou que as órbitas eram elipses.
Os astrônomos concluíram, após observarem muitas noites, que os planetas movem-se com velocidades diferentes em suas órbitas: mais próximos, mais rápidos. Assim, para completar uma revolução, Mercúrio tem um período de 88 dias, 224,7 para Vênus, 365,25 para a Terra, 687 para Marte, 4.332,5 para Júpiter e 10.759,3 para Saturno.
Para calcular essas distâncias foi preciso imaginação. Utilizou-se a técnica da paralaxe (do grego, alteração de posição) que consistiu em observar os planetas a partir de dois pontos distantes na Terra, tendo as estrelas ao fundo.
Em 1.609, Galileu construiu um telescópio, que ampliou os objetos celestes e permitiu medir com precisão as paralaxes e as distâncias dos planetas.
A Terra dista do sol, em média, 149.597.870 km (esta distância é chamada de unidade astronômica ou UA). Mercúrio dista apenas 57.900.000 km, já Saturno, 1.427.000.000 Km. Essas distâncias significam muito.
A luz percorre 299.792,4562 Km/s, é a maior velocidade possível (por enquanto?). A luz que deixa o Sol atinge Mercúrio após 3,2 minutos, Vênus após 6 min, a Terra em 8,3 min, Marte em 12,7 e Saturno em 79,3. A luz não parece ser tão rápida!
O próprio Galileu descobriu que Saturno possuía anéis e quatro satélites (do latim subordinados) de Júpiter (receberam os nomes de suas amadas: Io, Europa, Ganimedes e Calisto). Enquanto isso, seus opositores insistiam que as visões do telescópio eram ilusões de ótica…
Em 1656, Christian Huygens descobriu que Saturno possuía um satélite que foi batizado Titã em homenagens aos deuses da época que o deus Saturno governava. Titã é a maior lua do Sistema Solar (diâmetro de 5.800 km), tem quase o dobro da nossa Lua (que é de 3.476 km). Aliás, é maior que Mercúrio, que tem um diâmetro de 4.890 km. É o único satélite a ter atmosfera.
Giovanni Domenico Cassini descobriu outros quatro, foram nomeados de Réia (esposa de Saturno e pai de Júpiter), Japet, Dionéia e Tetis.
Seguiu-se descobertas de satélites, cometas, asteróides e dos demais planetas, fruto do trabalho paciente e perseverante dos astrônomos profissionais e amadores. Exemplos para todos nós.
Urano, Netuno e Plutão
O céu sempre fascinou e aterrorizou a espécie humana. O sol, nossa fonte de calor e luz; os raios davam ao homem o fogo; a chuva e as estrelas que despertavam a imaginação e o surgimento de deidades que regeriam nossas vidas. Vimos que os astrônomos haviam identificado planetas, satélites naturais, cometas e asteróides. Mas ainda faltavam descobrir os planetas distantes.
Acreditou-se que Saturno era o planeta mais distante até 1.781 quando o inglês Willian Herschel descobriu o sétimo planeta, denominado Urano, pai de Kronos (Saturno) e deus do céu. Urano pode ser visto a olho nu e não foi descoberto antes simplesmente porque tem, no céu, cinco mil estrelas mais brilhantes.
Comparado com Saturno, Urano tem 1/244 do brilho, sua distância do sol é o dobro e move-se com um terço da velocidade desse planeta. Essa lentidão levou o astrônomo francês Pierre Lemonnier a registrá-lo em treze posições diferentes, acreditando que fossem estrelas diferentes.
O próprio Herschel descobriu, em 1.787, dois satélites: Titânia e Oberon (nomes tirados da peça “Sonho de Uma Noite de Verão” de Shakespeare). Em 1.851, Willian Lassell descobriu mais dois: Ariel e Umbriel (tirados da peça “A Tempestade”). Em 1.948, o quinto satélite foi descoberto, nomeado Miranda (também saiu dessa peça). Em 1.977, descobriu-se que Urano possuía também anéis, nove ao todo, embora bem pequenos.
O francês Alexis Bouvard, em 1.821, calculando a órbita de Urano, observou um pequeno desvio. Deveria ser a influência de um oitavo planeta. Em 1.845, o jovem estudante inglês de matemática John Adams calculou a possível posição do planeta e entregou ao astrônomo James Challis, que se julgou ocupado e encaminhou para George Airy. Airy não recebeu Adams por estar jantando, depois, ao ver os cálculos, não julgou interessante. O jovem francês Urbain Leverrier calculou, independentemente de Adams, seis meses mais tarde, e encaminhou a Airy. Sem resposta, resolveu procurar o Observatório de Berlim.
Assim, o alemão Johann Galle achou o novo planeta. Por apresentar uma coloração verde, nomearam-no Netuno, o deus romano do mar (Poseidon para os gregos). Três semanas depois, descobriram um satélite, Tritão (filho de Poseidon), um pouco maior que a nossa lua, mas a massa é dez vezes maior. O curioso de Tritão é que ele move-se contra a rotação de Netuno, ao contrário dos demais satélites. Somente em 1.959 foi descoberto a segundo satélite, Nereida (principal ninfa de Poseidon).
Netuno não explicava todos os desvios na órbita de Urano, assim os americanos Percival Lowell e Willian Pickering, independentemente, calcularam e iniciaram a busca do nono planeta, no início do século. Pickering desistiu logo, mas Lowell persistiu por onze anos, perdendo peso e a paz, até morrer do coração. Finalmente, em 1.930, outro americano, Clyde Tombaugh, descobriu o planeta, entre 50.000 estrelas, chamado Plutão (o deus das profundezas do inferno) e sendo uma homenagem a Lowell já que as duas primeiras letras P e L são as iniciais do astrônomo persistente.
Plutão tem perto de 3000 km de diâmetro (é menor que a Lua que tem 3.476 km). Um satélite foi descoberto em 1.978, Caronte (um barqueiro segundo a mitologia). Por ser pequeno, não explica os desvios na órbita de Urano e Netuno abrindo a possibilidade de serem descobertos novos planetas. Ainda podemos ter novidades.
(Plutão foi rebaixado)

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