O que mais me encanta nessa conversão é o desapego de qualquer ideologia e posição política. Nunca fui apegado com política, mas o libertarianismo me atraiu de uma forma que quase me cegou em certo período.
Lembro-me
que sempre quis pagar de radical e polêmico, mas com o tempo percebi
que não era necessário ser tão polemista, mas acima de tudo coerente com
o que defendo. Isso me fez garantir uma faminha razoável até. Mas nada
que possa ser comparado com outros militantes mais conhecidos.
De
2013 até o fim de 2016, quando definitivamente larguei a militância
libertária, escrevi para diversos sites. De uma posição meio
progressista até uma mais conservadora. Porém, em meados de 2016 a
conversão veio. Assim como o meu ateísmo – aparentemente inabalável até
então – desmoronou, a minha “fé” no libertarianismo também foi junto.
Não porque acho inviável ou coisa do tipo, não por achar o estado pode
ser legítimo ou não, mas porque acima de tudo não via mais motivos para
me dizer libertário.
O
motivo é muito simples: se declarar libertário é um comprometimento com
uma linha de pensamento. Não com a verdade em si. Uma vez que nos
comprometemos com uma linha de pensamento, negamos a busca da verdade.
Ela deixa de ser a conformidade da nossa inteligência com a realidade e
passa a ser a conformidade da realidade com a nossa vontade. Tudo tem
que passar pela rigidez do raciocínio comprometido com uma linha de
pensamento cujo fim é a mudança da realidade externa. A mudança das
pessoas que nos cercam.
Por
muito tempo fui influenciado por diversos pensadores, mas colocarei
aqui basicamente três: Hans-Hermann Hoppe, Murray Newton Rothbard e
Ludwig von Mises. Os três com pensamentos seculares e em certo nível
anticlerical. Principalmente o Mises. Mas dou o braço a torcer: ainda
reconheço que são analistas brilhantes no campo econômico, mas não vou
focar nisso.
As
análises de Mises – que não era libertário, mas que deu as bases para o
libertarianismo moderno – ainda me influenciam quando observo certos
fenômenos econômicos. Aprendi muito lendo o tijolo Ação Humana, mas nesse mesmo livro Mises critica a religião como se fosse algo irracional. Rothbard em A Ética da Liberdade
critica a Igreja pelo seu posicionamento contra o aborto e ainda disse
que o pensamento agostiniano é contra a razão (como se o Santo
Agostinho, o mais importante padre da patrística, fosse contra a razão).
São posições não apenas contrárias à Igreja, mas contrárias a própria
verdade.
Mas
no caso do Hoppe o caso é ainda mais sério. Hoppe é menos conhecido que
esses dois, mas ele foi quem me formou intelectualmente como libertário
militante. Principalmente com a sua ética argumentativa. Todavia, devo
confessar que ela desmoronou com o fim do meu ateísmo. A ética
argumentativa sugere que a ética não é bem uma realidade externa, mas é
algo cuja estrutura depende da nossa capacidade de argumentar. Isso foi
uma conclusão do próprio Hoppe, em Uma Teoria do Socialismo e do Capitalismo. Ou ainda: ignora quem nos deu tal capacidade, que foi Deus.
E
o que o fim do meu ateísmo tem a ver com isso? Ora, se existe Deus, a
ética deve ser uma realidade externa determinada por Ele. Sendo Deus o
Criador de tudo, Ele também é o Senhor de tudo. Logo, crer na ética
argumentativa e ser cristão são duas coisas incongruentes. Hoppe ao
escrever os seus livros, principalmente Democracia – o deus que falhou,
fez análises e formou teses interessantíssimas, mas falha ao excluir
Deus dos seus estudos. Ignora que mais do que a introdução da democracia
no Ocidente, o que também piorou ainda mais a situação atual da Europa
foi a perda da fé católica. Sem a fé, disparou o número de abortos,
divórcios, fez surgir leis favoráveis a homossexuais, mães e pais
solteiros e toda sorte de aberrações. O trabalho de Hoppe até certo
ponto foi muito nobre, mas não tem como escrever sobre algo tão profundo
e ainda mais no Ocidente ignorando Deus e o papel da Santa Igreja.
Hoppe ignorou a Revolta (me recuso a chamar isso de Reforma)
Protestante, por exemplo, que aumentou totalmente o poder do estado e
abriu espaço para outros eventos lamentáveis como a Revolução Francesa.
Posso até crer que talvez seja o fato dele ser de família luterana, mas é
mais provável que o seu agnosticismo o impeça de enxergar uma peça que
poderia tornar a sua obra quase perfeita para qualquer leitor.
Mas
devo confessar que a leitura de Hoppe me ajudou de certa forma me
aproximar do cristianismo, mas ao ver a minha fé evoluir, isso me
afastou do libertarianismo também. Mas sem Hoppe seria capaz de ainda
ser um libertário pós-moderno longe de me converter. Me resta rezar por
ele. Ele me impediu de mergulhar nas trevas mais escuras que poderia
mergulhar. Hoppe sem dúvida foi uma peça fundamental para a minha
conversão e o afastamento daquilo que ele mesmo defende.
Direita, esquerda, centro…? Nada disso. Apenas católico.
fonte: Luciano Takaki – Medium
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