
Apesar
do brasileiro médio saber que o meio político é corrupto, poucos tinham
a real noção de quanto o sistema estava podre. A delação dos executivos
da Odebrecht não tem paralelo na história do mundo. Podemos imaginar
que o nível de corrupção na antiga URSS era até maior do que a
apresentada no Brasil, pelo nível de intervenção do governo na economia e
pela falta de qualquer ferramenta de controle, como um judiciário
independente ou imprensa livre, mas muito pouco da corrupção foi
documentada.
O
caso brasileiro oferece uma oportunidade única para entender como a
concentração de poder e a mentalidade estatista gera um ambiente
propício para a corrupção absoluta.
A
fórmula é simples: quanto mais recursos estiverem sob o controle de
poucas pessoas, maior será o nível de corrupção e menor será o nível de
liberdade e prosperidade num determinado país.
“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus.” John Dalberg-Acton
No
Brasil, onde há uma carga tributária brutal, controlada na distante
Brasília, além do controle estatal, direto ou indireto, de milhares de
empresas, temos um exemplo perfeito de concentração de poder. O
resultado não poderia ser outro.
O
socialismo é a ideologia preferida pelos políticos por um motivo
simples, ele requer exatamente a concentração de poder. Utilizando como
desculpa o objetivo de proteger os pobres e “oprimidos”, um grupo de
iluminados atribui a si o direito de decidir como a sociedade deve
funcionar para corrigir os seus vícios.
O
seu mantra é a desconstrução do modelo de organização social que
evoluiu naturalmente ao longo de milênios de atividade humana. A
tradição judaico-cristã fundou as bases morais dessa organização, pelo
menos no mundo ocidental, baseado em crenças objetivas: o ser humano é
fundamentalmente falho e sua existência abarca muitos outros aspectos
além do mundo físico, fugindo por vezes a própria capacidade humana de
entendimento. O ser humano ideal nessa ótica é aquele que tem
consciência das suas limitações e falhas, buscando através do seu máximo
esforço seguir um código moral que chegou até ele de uma instância
superior, sabendo que dificilmente o alcance de um estágio final do seu
desenvolvimento se dará nessa vida.
A
visão socialista é ancorada na negação dessa realidade objetiva, com
foco no materialismo e na possibilidade de moldar a sociedade da maneira
que a vanguarda “progressista” desejar. Se não há uma realidade
objetiva e este mundo abarca toda a existência humana, tudo seria uma
“construção social”. Não existe certo ou errado, mas sim uma decisão
pessoal, geralmente baseada nos instintos básicos. O sucesso ou o
fracasso não é responsabilidade individual, mas sim uma consequência de
uma estrutura social “opressiva”.
Se
eu cometi um crime, a culpa é da sociedade, não minha. Um bandido,
nesse caso, teria o mesmo valor de um homem honesto. Na verdade, o
bandido, na visão socialista, está numa posição superior, pois ele foi
prejudicado de alguma forma, enquanto o homem honesto deve ser honesto
porque de alguma maneira foi beneficiado pela “velha” estrutura social.
Se eu sou pobre, não é porque eu não consegui produzir algo valioso, ou
simplesmente porque eu prefiro ser pobre, mas sim pela exploração de uma
outra classe social.
A
loucura chega ao ponto de negar a própria realidade objetiva de nascer
biologicamente um homem ou uma mulher. Eu posso ser o que eu quiser,
agir da maneira que eu quiser, e o único significado da vida é buscar a
utopia socialista do paraíso socialista na Terra, não importando se tal
utopia já se provou inúmeras vezes impossível de ser realizada, ou nem
mesmo é muito bem definida.
Obviamente,
para impor essa mudança estrutural na sociedade é necessário concentrar
muito poder. Algumas pessoas que compartilham dessa visão de mundo tem
de fato boas intenções, apesar de estarem erradas, mas a maioria
daquelas que realmente tem o poder nas mãos sabem que tudo não passa de
um engodo. Não obstante, elas mantém uma visão materialista atrelada a
um alto grau de psicopatia: se não existe nada além dessa vida, eu quero
ter o máximo de conforto possível e ter todas as minhas vontades
realizadas, mesmo que isso represente a morte e o sofrimento de milhões
de pessoas. Não é esse um resumo exato de todos os regimes socialistas
na história?
O
pensador que romantizou de forma mais precisa essa realidade foi George
Orwell, nos seus clássicos “1984” e “A Revolução dos Bichos”.
Voltemos então à situação brasileira.
Temos
uma dissecação de um sistema socialista com as delações da Odebrecht. O
único objetivo daqueles que estão numa posição de poder, sejam eles
políticos, empresários, jornalistas, juízes, sindicalistas, etc… é tirar
algum benefício próprio, de forma legal ou ilegal, sob um manto de
“democracia” e de promoção da “justiça social”.
A
Constituição de 88 apresenta exatamente essa visão: a promessa é dar,
no papel, direitos infinitos ao povo. Com a desculpa de dar ao povo o
paraíso na Terra, é preciso cobrar desse mesmo povo impostos
escorchantes e colocar tais valores nas mãos dessa vanguarda
progressista, para que eles então realizem a “justiça social”.
Mais
do que isso, é preciso controlar todas as atividades sociais, com um
número infinito de regulações, para que a vanguarda progressista divida o
poder conforme lhe convenha.
Legalmente,
a imoralidade é produzida por salários garantidos à elite do
funcionalismo público, usualmente sem a contrapartida de serviços
prestados que justifiquem tal salário e benefícios sem fim. Ilegalmente,
nós temos a relação promíscua entre políticos e empresários amigos do
rei, que em troca de contratos repassam somas exorbitantes a esses
políticos.
É uma lógica muito simples, se pararmos para pensar.
Num
sistema assim, não existe livre mercado e aumento de eficiência que
produziria maior criação de riqueza para todos. Por que a Odebrecht irá
construir uma hidrelétrica pelo menor preço se ela tem o negócio
garantido pelo maior preço possível? Até porque ela terá que pagar
propinas para todo mundo.
Por
que um funcionário público trabalhará mais se ele tem o seu emprego
garantido, com salários e benefícios polpudos, mesmo se não produzir?
Por
que os Correios irão buscar maior eficiência, se a empresa tem um
monopólio do mercado e podem ser deficitários para sempre, já que o
Tesouro irá socorrer a empresa em caso de necessidade de mais recursos?
O
golpe final vem com programas como o bolsa-família, onde os políticos
tiram 50% da renda dos mais pobres e jogam de volta algumas migalhas,
comprando assim os seus votos.
O
que aconteceu em 2014 é que o rei ficou nu. O sistema ficou inviável,
onde 97% do povo sustenta a elite formada por 3% daqueles que orbitam a
esfera pública, direta ou indiretamente. É verdade que no grupo dos 3%
existem pessoas de bem e que fazem valer os seus vencimentos, mas
infelizmente é uma minoria. No topo da pirâmide temos tipos como Lula e
Renan Calheiros, que concentram um poder político e econômico
inimaginável.
Não
podemos afirmar que os 97% são inocentes. Boa parte é no mínimo
conivente com práticas imorais, ou são criminosos mesmo. Mas não podemos
esquecer que uma parte dessa postura pode ser explicada pela própria
ação da elite e sua agenda de relativismo moral, implementada através
das escolas e universidades, no meio cultural e até mesmo na Igreja,
destruída parcialmente pela Teologia da Libertação. A Justiça também tem
responsabilidade gigantesca no processo, seja pela sua lentidão, seja
pela interpretação socialista das leis, transformando criminoso em
vítima e vice-versa.
Esse é o quadro da tragédia brasileira.
Como sair dessa enrascada?
Não
sei exatamente como, mas creio que o primeiro passo seja observar no
mundo os exemplos de organização social que deram certo. E nesse
sentido, salta aos olhos o exemplo americano, com base na visão dos
Founding Fathers, estabelecidos pela Declaração de Independência e pela
Constituição americana.
Ali fica muito clara a influência da tradição judaico-cristã, na sua passagem mais célebre:
“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo Objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos e instituir novos Guardiães para sua futura segurança…”
Resumindo,
existem direitos naturais que todo ser humano porta, dado por um
Criador, entre os principais o direito a vida, a liberdade e a busca da
felicidade. Governos são organizados com o consentimento dos governados e
não apenas podem, mas devem ser destituídos no caso de não haver mais o
consentimento dos governados, por conta de não mais garantirem os
direitos naturais básicos aos governados. Não é exatamente o caso
brasileiro?
Perceba
que há um contraponto brutal com o ideal socialista, de relativismo
moral absoluto e atribuição de poder a uma vanguarda que decidirá o
caminho a ser adotado.
Mas como esse governo deve ser organizado?
Da
maneira mais descentralizada possível, para que o poder seja repartido e
haja um equilíbrio entre os ente federativos. Cada estado deve definir
as suas leis e criar as suas forças policiais, além de instituir um
Executivo e um Judiciário relativamente independentes do poder central. O
presidente, assim como o Congresso são mais forças unificadoras do que
centralizadoras de poder, pelo menos essa era a intenção original que
foi sendo desvirtuada ao longo do tempo. Mesmo assim, hoje os EUA
apresenta um grau de centralização de poder bem menor do que o Brasil,
sobrevivendo à destruição gerada pela administração Obama.
Os
impostos devem ser os menores possíveis, a propriedade privada é
sagrada, as leis devem valer para todos os cidadãos e devem ser muito
duras, especialmente para crimes graves.
O
sistema político é organizado através do voto distrital, promovendo uma
verdadeira representação popular. Os políticos podem sofrer recall caso
não cumpram promessas de campanha. Existe uma postura ideológica, com
uma definição mais ou menos clara entre direita e esquerda. Há melhor
divisão entre impostos federais, estaduais e municipais, dando mair
autonomia às menores unidades administrativas, promovendo uma maior
fiscalização da aplicação dos recursos. O número de funcionários
públicos é menor proporcionalmente que o Brasil, poucos tem estabilidade
no emprego e os seus salários seguem a média da iniciativa privada, com
o mesmo sistema de previdência.
O
Legislativo é enxuto, custando uma fração do que é gasto no Brasil. No
Judiciário, os juízes de primeira instância são eleitos pelo voto
popular, precisando apenas cumprir requisitos básicos de educação para
se candidatar. Os xerifes de polícia também. Juízes federais precisam
ser aprovados pelo Congresso. A aprovação de juíz da Suprema Corte é
realmente difícil no Senado, não uma mera formalidade como no Brasil.
Não há Justiça do Trabalho, vale o acordo entre empregador e empregado.
Não
existem grandes empresas estatais e o mercado é muito mais livre,
impera o conceito de livre concorrência na maior parte dos casos. O
nível de burocracia é reduzido, uma empresa pode ser aberta num dia. O
sonho de um jovem numa faculdade é abrir uma empresa e não passar num
concurso público.
Essas são algumas características que explicam como os EUA criou riqueza para todos como nenhum outro país na história.
É
para esse tipo de modelo que devemos concentrar as nossas atenções na
hora de reconstruir o Brasil, não em países como Cuba, um exemplo de
opressão e geração de pobreza que a esquerda brasileira tanto idolatra.
Outro
desafio é como implementar essa Revolução, já que não podemos esperar
que os sanguessugas que escravizam o povo há décadas puxem o seu próprio
tapete. Precisamos de uma elite corajosa e engajada para produzir a
Revolução, mas em primeiro lugar, essa elite precisa ter os ideais
corretos.
fonte: Medium
Comentários
Postar um comentário