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É preciso entender Gramsci para compreender o PT. Ou: É a cultura, estúpido!







 Rodrigo Constantino 
 














Lenin queria uma revolução comunista
pelas armas, para impor a “ditadura do proletário” (na verdade, da elite
em nome do proletário). Mas Gramsci, o fundador do Partido Comunista
Italiano, acreditava que essa tática belicosa não daria certo no
Ocidente. Era preciso comer pelas beiradas, dominar a cultura, destruir a
democracia de dentro dela.
Muitos repetem hoje a frase do
marqueteiro de Bill Clinton, alegando que “é a economia, estúpido”. Mas
será que é mesmo? A economia esse ano simplesmente não cresceu nada, e a
inflação seguiu em alta. Mesmo assim Dilma venceu. Podemos considerar
uma possível fraude e o voto de cabresto, mas mesmo assim ela teve
milhões de votos Brasil afora. Por quê?
De forma bem resumida: Gramsci. O empresário Gastão Reis Rodrigues Pereira publicou um excelente artigo
hoje no Estadão resumindo o que pregava o ideólogo comunista. Dá uma
boa ideia de como chegamos até aqui. Isso foi abordado em meu livro Esquerda Caviar também, tamanha a importância que dou ao assunto. Segue um trecho:
Onde as
ditaduras socialistas não vingaram, restou a opção da tomada de baixo
para cima desses veículos. A revolução de Gramsci, o comunista italiano
que arquitetou a estratégia  de poder por meio da própria democracia,
poderia dispensar as armas se fosse bem-sucedida na infiltração em
escolas, universidades, redações, igreja e televisão. Sua revolução
cultural seria mais silenciosa e, portanto, mais perigosa, pois menos
perceptível.
Vale a pena dedicar alguns parágrafos a esta figura sombria, uma vez que as estratégias traçadas em seus Cadernos do cárcere têm tudo a ver com a postura da esquerda caviar atualmente, e com esse viés da imprensa.
Nascido na
Itália em 1891, Antônio Gramsci foi um marxista intelectual membro do
Partido Socialista Italiano. Gramsci era um simpatizante da revolução
bolchevique de 1917, e foi um dos fundadores do Partido Comunista
Italiano. Preso pelo regime fascista de Mussolini, começou a escrever
notas na prisão.
O tema
central de seus escritos consistiria na formulação de uma  estratégia de
tomada do poder, distinta do modelo leninista. Para Gramsci, o “assalto
ao poder” de Lênin não seria o método adequado nos países ocidentais. A
estratégia gramscista de transição para o socialismo contaria com
aspectos mais graduais, infiltrando-se e influindo na cultura, e
alterando-a para permitir a conquista final do poder pelas classes
subalternas. Esta tem sido a receita praticada na América Latina nas
últimas décadas, com resultados claramente positivos do ponto de vista
dos marxistas.
O general Sérgio Augusto de Avellar Coutinho, já falecido, escreveu o livro A revolução gramscista no ocidente,
que faz um didático resumo da concepção revolucionária de Gramsci.
Nela, o grupo dirigente seria justamente aquele que tem a hegemonia, ou
seja, “que tem capacidade de influir e de orientar a ação política, sem
uso da coerção”. O que torna a estratégia gramscista tão perigosa é
exatamente o fato de trabalhar por apodrecer os pilares democráticos de
dentro da própria democracia, subvertendo seus valores e corroendo esses
fundamentos.
Os
gramscistas falam em “democracia radical” ou “radicalismo democrático”
para se referir a tal modelo. Essa deturpação da ideia de democracia é
útil para a causa socialista, pois permite que se fale em “socialismo
democrático”, distanciando-se, no imaginário popular, do regime
ditatorial adotado na União Soviética. Isso garante o respaldo de
legalidade, evitando assim eventuais resistências e reações da
sociedade.
Na
estratégia gramscista, o papel dos intelectuais orgânicos é crucial. O
novo intelectual não é apenas um orador eloquente, mas um dirigente que
orienta, influencia e conscientiza as massas. O grupo de luta deve
também batalhar pela assimilação e conquista ideológica dos intelectuais
tradicionais. Estes terão participação consciente ou inconsciente,
podendo assumir o papel de intelectual orgânico por convencimento e
adesão, ou por ingenuidade, acomodação ou até capitulação.
Para
Gramsci, todos os membros do partido, em todos os níveis, são
intelectuais. Devem realizar na sociedade civil uma profunda
transformação política e cultural, “amestrando” as classes burguesas
também, levando-as a aceitar as mudanças intelectuais e morais como
parte de uma natural e moderna evolução. Para tanto, contam com o apoio
dos organismos privados, como sindicatos e organizações
não-governamentais. E da imprensa, claro.
Portanto, caros leitores, se desejamos
nos livrar de vez do PT e do bolivarianismo – e toda gente decente
deseja isso – será preciso lutar no campo cultural. Sem mudar a
mentalidade das pessoas e sem impedir o avanço dos “intelectuais
orgânicos”, essa cambada de doutrinadores que desde a escola já manipula
as frágeis cabeças das crianças, não será possível superar e enterrar
essa seita esquerdista, colocando-a em seu devido lugar, que é o lixo da
história.








É preciso entender Gramsci para compreender o PT. Ou: É a cultura, estúpido! | Rodrigo Constantino | VEJA.com

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