Rodrigo Constantino
A prova do Enem neste fim de semana, como
de praxe, trouxe questões de cunho ideológico, cuja resposta “correta”
deixa transparecer o viés dos formuladores, alinhados com o governo.
Demétrio Magnoli comenta o caso em artigo
no GLOBO, lembrando que tal prática nos remete ao fascismo, em que
cabia ao governo autoritário impor sua visão de mundo aos alunos.
Escreve o sociólogo:
A
propaganda explícita das políticas racialistas é uma marca do Enem. Na
prova aplicada anteontem, emerge duas vezes. Por meio da questão 42
(Prova Branca), o jovem candidato é conduzido a aplaudir o Parecer do
Conselho Nacional de Educação que instituiu a “Educação das Relações
Étnico-Raciais”. A formulação da questão cita um trecho do documento
oficial, consagrado a difundir “posturas que eduquem cidadãos orgulhosos
de seu pertencimento étnico-racial” – ou seja, uma pedagogia do
“orgulho racial”. Num outro trecho, não citado, o Parecer conclama as
escolas a desfazer os “equívocos quanto a uma identidade humana
universal”, o que equivale a rasgar a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
[...]
O
antiamericanismo é um traço obsessivo do Enem. Ele aflorou desta vez na
questão 26, a mais panfletária de toda a prova. Segundo a formulação, o
grupo dos BRICS é formado por “países que possuem características
político-econômicas comuns”, uma tese ousada que deve ser
compulsoriamente admitida pelos candidatos, chamados a “comprová-la”
pela seleção da alternativa “correta”. A única alternativa coerente com a
formulação cimenta a unidade do grupo na lenda de que seus integrantes
constituem uma “frente de desalinhamento político aos polos dominantes
do sistema-mundo”. Por esse caminho, o Enem sacrifica no altar da
retórica de nossa política externa as profundas divergências
geopolíticas entre os países dos BRICS, notadamente o alinhamento
estratégico da Índia com os EUA.
Além da cartada racial e do
antiamericanismo, a imprensa aparece como algo ruim, apoiando ditadura, e
a Comissão da Verdade surge como uma heróica iniciativa dos movimentos
sociais. É a doutrinação ideológica por meio do estado. Não bastasse nas
salas de aula essa politização invadir o ensino, na hora de filtrar
para ver quem entra nas universidades federais se cobra o grau de
alinhamento também.
Como resume Demétrio, o Enem não
“faz a cabeça” de ninguém, obviamente. “Mas certamente contribui para a
miséria intelectual em nossas escolas”, conclui. Até quando vamos
aturar essa praga marxista destruindo o ensino em nosso país?
_____________________________________________
Rodrigo Constantino em http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/educacao/enem-ideologico-o-governo-que-nos-deseduca/
Comentários
Postar um comentário