Por Dale Ahlquist
Tradução: Pedro Erik Carneiro
Tradução do original The Catholic Church and Conversion [Lecture 49], disponível no site Chesterton.org
Pode ser surpresa para alguns saber que Chesterton foi criado como Unitário. A descoberta da “ortodoxia” Cristã (como descrito no seu livro “Ortodoxia”) o levou para ser adepto da Igreja Anglicana em 1901, mais tarde ele diria que isso foi apenas sua conversão incompleta ao Catolicismo. Antes de se tornar Católico, Chesterton reconheceu o fato de que ele estava conduzindo muitas pessoas para a Igreja Católica sem que ele mesmo tivesse ingressado. Mas ele continuava conduzindo-as. Apenas em 1922, com a idade de 48 anos, Chesterton foi recebido dentro da Igreja Católica Romana. Isto foi um choque para muitos. Muitos observadores ficaram surpresos pois achavam que ele já era Católico, uma vez que tinha defendido a Igreja durante muitos anos. Mas muitos outros que o conheciam mais de perto, amigos e oponentes, achavam que isso nunca iria acontecer. George Bernard Shaw atirou uma carta dizendo: “Gilbert, isto foi longe demais”.
Cinco anos depois de fazer parte da
Igreja, Chesterton escreveu The Catholic Church and Conversion (A Igreja
Católica e Conversão). Ele disse que embora todos os caminhos levem a
Roma, cada peregrino é tentado a dizer que todos os caminhos são como o
dele. “A Igreja é uma casa com cem portas; e dois homens não entram
exatamente pelo mesmo ângulo.” Mas ele não precisava ter se preocupado
em fazer uma declaração tão pessoal. Quase todo convertido reconhecerá
os três estágios para conversão que Chesterton descreve: O primeiro
estágio é Dedicar Atenção à Igreja. O segundo é Descobrir a Igreja. E o
terceiro é…Fugir da Igreja.
O convertido entra no primeiro estágio
quase sem perceber quando ele decide ser justo com a Igreja Católica.
Ele não pensa que a religião de Roma é verdadeira, mas, pela primeira
vez, ele também não acha que as acusações contra a Igreja sejam
verdadeiras. Este é um passo importante que o leva para o longo e
agradável segundo estágio, no qual é completamente fascinante aprender o
que a Igreja Católica realmente ensina. Chesterton disse que esta é a
parte mais agradável da trajetória, “mais fácil que entrar na Igreja e
muito mais fácil que tentar viver uma vida Católica. É como descobrir um
novo continente cheio de flores estranhas e animais fantásticos, mundo
selvagem, mas hospitaleiro.” Mas então a partir daí o convertido de
repente, em estado de choque, se dá conta que ele não pode ficar mais
imparcial em relação à Igreja Católica.
É impossível ser justo com a Igreja
Católica. No momento em que o homem cessa de atacá-la, ele sente uma
atração em direção a ela. No momento em que ele cessa de gritar, ele
começa a ouvi-la com prazer. No momento em que ele tenta ser justo ele
começa a admirá-la.
Mas então chega o estágio final: medo.
“Uma coisa”, diz Chesterton, “é concluir que o Catolicismo é bom e outra
é concluir que é o certo. Uma coisa é concluir que é certo, outra é
concluir que é sempre certo”. Neste estágio delicado, Chesterton observa
que não são mais os inimigos da Igreja que não permitem a entrada do
convertido, mas “apenas a palavra de um Católico pode mantê-lo fora do
Catolicismo. Uma palavra estúpida de um membro da Igreja faz mais
estrago que cem palavras estúpidas de pessoas de fora da Igreja.” Ele
aponta para um problema que ainda assola a Igreja: Católicos que não
apenas fazem um péssimo trabalho em apresentar a fé Católica, mas também
afastam pessoas que estão querendo entrar na Igreja.
Todo Católico deveria ler este livro de
Chesterton. Pois além de ficar mais preparado para lidar com
convertidos, eles apreciarão fortemente a fé na qual eles desejam
entrar. Especialmente a percepção que a Igreja, como disse Chesterton,
“é maior de dentro que ela é de fora.”
Toda era tenta criar uma nova religião,
algo que se adapte melhor com o momento, mas novas religiões são apenas
adaptadas para aquilo que é novo. E o que é novo fica velho logo.
Chesterton argumenta que a Igreja Católica tem todo o frescor de uma
nova religião, mas ela é também rica como uma religião velha. É uma
religião que amarra os homens a moralidade mesmo quando eles não estão
com vontade de usar a moral. A Igreja algumas vezes tem de ir na
contramão do mundo. Ela pregou reconciliação social para facções
raivosas e agressivas que preferiam destruir uns às outras. Ela pregou
caridade para velhos pagãos que não acreditam nisto, assim como ela
prega hoje castidade para novos pagãos que não acreditam nisto.
Nós não precisamos de uma religião que
está certa quando nós estamos certos. O que nós precisamos é de uma
religião que está certa quando nós estamos errados.
Chesterton já tinha provado que era um
defensor da tradição contra modismos, mas ele deixou claro para céticos e
detratores que uma das razões para se tornar Católico era que a Igreja
Católica “é a única coisa que salva um homem da escravidão degradante de
ser uma criança na idade dele.” Ele descobriu que tudo o mais era mais
estreito e mais restritivo. Na Igreja, ele viu liberdade. Liberdade
alucinante, ele disse. Se isto não é surpresa o bastante, deve ser
sóbrio se não estonteante para qualquer leitor honesto de Chesterton
considerar que este gigante intelectual encontrou um lar para sua mente
na Igreja Católica. Não é um lar meramente para descansar, mas um lugar
de grande excitação e atividade. Isto está revelado em um das frases
mais desafiadoras que Chesterton já disse: “Se tornar um Católico não é
deixar de pensar, mas aprender a pensar.”
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