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Mídias sociais podem induzir preconceitos e distorções nas pesquisas científicas

Redação do Diário da Saúde

Mídias sociais podem induzir preconceitos e distorções nas pesquisas científicas
Os cientistas raramente corrigem seus dados para eliminar a distorção que as populações de cada site de relacionamento podem produzir nos resultados. [Imagem: Universidade McGill/Divulgação]

 

Sites de relacionamentos

Os sites de relacionamento tornaram-se a Meca dos psicólogos e cientistas sociais, que passaram a ver as chamadas mídias sociais, ou sites de relacionamentos, como um meio rápido e barato de estudar o comportamento humano.

Contudo, essa prática está repleta de preconceitos e distorções, alerta uma equipe das universidades McGill (Canadá) e Carnegie Mellon (EUA).

Nos últimos anos, um número crescente de estudos científicos tem reivindicado a capacidade de prever tudo, de sucessos de bilheteria no cinema a flutuações no mercado de ações, anunciando "descobertas" sobre o comportamento humano online e offline.

Mas as evidências de falhas em muitos desses estudos destacam a necessidade de que os cientistas sejam cautelosos devido a uma série de armadilhas que surgem quando se trabalha com grandes conjuntos de dados de mídia social.

Esses resultados errados podem ter enormes implicações: milhares de trabalhos de pesquisa a cada ano agora são baseados em dados recolhidos nos sites de relacionamento. "Muitos desses artigos científicos são usados para dar suporte e justificar decisões e investimentos entre o público, a indústria e o governo", alerta o professor Derek Ruths, membro da equipe.

Em um artigo publicado na revista Science, a equipe destaca várias questões envolvendo a utilização desses dados de mídia social - juntamente com algumas estratégias para enfrentá-los.

Extratos de população

Para começar, os pesquisadores alertam que os dados disponibilizados pelos sites de relacionamento nem sempre fornecem uma representação precisa dos dados globais da plataforma - e os pesquisadores estão geralmente no escuro sobre quando e como os provedores de mídia social filtram seus fluxos de dados.

Além disso, o próprio projeto de cada plataforma de mídia social pode ditar a forma como os usuários se comportam e, portanto, criar desvios em qualquer medição de comportamento.

Por exemplo, apontam eles, no Facebook a ausência de um botão "Não Gostei" faz com que as respostas negativas ao conteúdo sejam muito mais difíceis de detectar do que as respostas positivas, que dispõem do botão "Curtir".

Além disso, cada site de relacionamento atrai usuários diferentes. O Pinterest, por exemplo, é dominado por mulheres com idades entre 25 e 34 anos. O Instagram tem apelo especial entre adultos com idades entre 18 e 29 anos, principalmente mulheres, pessoas de renda mais baixa e etnias definidas como latinos e afro-americanos, - enquanto o Pinterest é dominado por usuários entre 25 e 34 anos com renda média acima de US$100.0000.

Contudo, os cientistas raramente corrigem seus dados para eliminar a distorção que essas populações podem produzir nos resultados.

Consciência científica

Exemplificando os desvios, a equipe destaca que esforços para inferir a orientação política dos usuários do Twitter mal atingiram uma precisão de 65% para usuários típicos - embora "estudos científicos" com dados da plataforma, com foco em usuários politicamente ativos, reivindiquem 90% de precisão.

Além disso, um grande número de geradores de spam e softwares automatizados, que se disfarçam de usuários normais nos sites de relacionamento, são erroneamente incorporados em muitas medições e previsões do comportamento humano.

"O traço comum em todas estas questões é a necessidade de que os cientistas sejam mais conscientes de o que estão realmente analisando ao trabalhar com dados de mídias sociais", resume o professor Ruths.

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