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As duas grandes contribuições de Karl Marx




Adolfo Sashida

Karl Marx formulou teorias sobre história, sociologia e economia. Foi infeliz em todas elas. Contudo, mais de um século após sua morte, seus seguidores continuam alardeando sua genialidade. Por que mesmo tendo errado tanto Marx é idolatrado? Qualquer outra pessoa que dissesse tantos absurdos dificilmente seria levada a sério. Por que isso não acontece com Marx? Meu palpite é que boa parte dos marxistas simplesmente não entendem as implicações do marxismo. As idéias de Marx levam inevitavelmente a ditadura e a perda de liberdades individuais. Mas isso não é compreendido pela maioria dos marxistas. Além disso, cabe ressaltar que as idéias de Marx geram a justificativa moral necessária aos canalhas: a imposição de injustiças, imoralidades e todo tipo de crimes no presente passam a ser justificados pela criação de um bem estar fictício no futuro. Palavras de ordem do tipo “pelo bem do povo” ou “pela sobrevivência da revolução” passam a ser usadas para explicar todo tipo de arbitrariedades. Vamos agora explicitar as contribuições marxistas:
1) Visão histórica de Marx: acreditava no materialismo histórico. Isto é, as condições históricas DETERMINAM o futuro. Isso implica num futuro que pode ser perfeitamente previsto e que não pode ser evitado. O futuro não poderia ser alterado por indivíduos, uma vez que estes são produtos da realidade histórica em que vivem. Alguém minimamente versado em história não pode aceitar esse argumento: Jesus Cristo é o exemplo mais óbvio do absurdo dessa idéia (talvez por isso os marxistas odeiem tanto a religião). Tenho certeza que o leitor pode pensar em vários outros contra-exemplos.
2) Visão sociológica de Marx: acreditava na luta de classes. A sociedade seria dividida entre capitalistas e operários, e os ganhos dos capitalistas representariam perdas aos operários e vice-versa. Nesta sociedade analisada por Marx, capitalistas e operários eram NECESSARIAMENTE inimigos, uma vez que o ganho de uns implicava na perda de outros. Obviamente profissionais liberais e autônomos não foram analisados por Marx. A análise marxista não abre espaço para a existência de um indivíduo que é ao mesmo tempo capitalista e operário. Ela também não abre espaço para ganhos mútuos, ou seja, para situações onde tanto os capitalistas como os trabalhadores são beneficiados pelo aumento da produção (tanto no curto como no longo prazo). Marx também não leve em conta a existência do pequeno produtor rural (camponês) que é dono de suas terras. Em resumo, a idéia marxista da luta de classes simplesmente não leva em conta uma parte significativa da sociedade. Além disso, ela também é falha ao insistir que capitalistas e operários sejam inimigos. O bom senso sugere que se o operário aceitou trabalhar para o capitalista é porque ele está melhor do que numa situação onde não trabalhe. Se o capitalista aceitou contratar o operário então é porque ele também obteve ganhos com essa troca. Em palavras, tanto o capitalista quanto o operário estão em melhor situação quando realizam trocas. Ou seja, de maneira alguma o ganho do capitalista implica necessariamente numa perda ao operário.
3) Visão econômica de Marx: acreditava na mais-valia. Essa idéia tem duas implicações absurdas: 1) os capitalistas pagariam um salário miserável aos trabalhadores, daí a necessidade do estabelecimento do salário mínimo pelo Estado. Levando em consideração que mais de 90% dos trabalhadores brasileiros recebem mais do que o salário mínimo, parece que o que determina salário NÃO É a mais-valia, mas sim algo muito distinto: a produtividade do trabalho; e 2) a idéia da mais-valia implica que só a produção gera valor, a circulação de mercadorias não poderia gerar valor (vai ver é por isso que os marxistas odeiam os intermediários).
Para ser honesto com Marx, ele deixou duas grandes contribuições para o mundo: o nazismo e o comunismo. Só espero que os marxistas não nos obriguem a agradecer por isso.

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