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Laicismo não é marxismo nem ateísmo

Rafael Nogueira


Ataque mortal contra Thomas Becket.

Um alerta contra a doutrinação que, sem ser religiosa, faz tudo aquilo que condena nas religiões

Se as escolas não podem ser religiosas porque se compreende que isso feriria a liberdade de crença consagrada na Constituição, pergunto-me em que medida a doutrinação ideológica não fere a liberdade de consciência, defendida também pela Constituição? Laicismo que troca padre por ideólogo não é nem nunca foi laicismo.
Não estou forçando a barra. Quando a laicização tornou-se tema importante na França, no séc. XVIII, seu propósito era impedir que o clero interferisse inadequadamente na educação, mas sempre mencionavam, ao mesmo tempo, os nacionalismos exagerados e as doutrinas políticas partidárias. Era uma tentativa de evitar o retorno ao Antigo Regime, e o domínio dos revolucionários extremistas, como era o caso dos jacobinos. Os filósofos mais atentos não queriam que nem um nem outro atuasse no sentido de tolher o livre desenvolvimento da inteligência e da moral das crianças, nem a liberdade das famílias de escolherem suas próprias ideias políticas e crenças religiosas. Se o Estado é laico, e se não há lugar para o tipo religioso de doutrinação em nome da liberdade, não há lugar para NENHUM tipo de doutrinação. Quem duvida disso, leia “Cinco Memórias sobre a Instrução Pública” de Condorcet. Se o tivessem ouvido a tempo, o Terror teria sido evitado.


Meus agradecimentos a Allen Cristhian Arruda pela elaboração da imagem.
 

O ódio de classe social contra classe social, a meu ver, é apenas uma crença. Fomenta-se o ódio classista, como outrora fomentou-se o ódio racista.
Não estou dizendo que não existem classes sociais. Nem que não existam conflitos de interesses entre elas. Mas considerá-la motor único da história e motivação central da vida é coisa para os ideólogos marxistas. A propagação desse ideário é feito por um “clero ateu” que acredita e se compromete com a causa da luta de classes, mas ninguém lhes deu o direito de fazer das crianças seus soldadinhos socialistas inconscientes.
O materialismo histórico não é a palavra final da ciência (e ainda que fosse, poder-se-ia informar, não doutrinar ou obrigar), nem é evidente, nem é a única posição a respeito do mesmo tema. Tampouco é aceito por todas as famílias como explicação da realidade. Nem todos querem matricular seus filhos numa escola para que se transformem em Ches Guevaras. Aliás, muitos pais nem sabem do que se trata, o que impede até sua capacidade de observação desse fato que estou a relatar.
Nas escolas públicas, tal coisa deveria ser absolutamente proibida. E nas particulares, esclarecida. Devem ser acrescidas às propagandas de escolas particulares a informação de que os filhos que ali estudarem acabarão se tornando pequenos Lênins, Stálins, Dirceus, Lulas e até Maos. Esse “clero” não tem direitos a mais que nenhum outro clero. É hora de por em xeque esse ultraje à Constituição e às liberdades essenciais.


Advertência feita por um amigo que considerei correta:
“O nome certo do problema não é doutrinação marxista. Como observava Eric Voegelin, a maior parte dos que se dizem marxistas nunca estudaram Marx direito e são no máximo pseudo-marxistas. Como diz Olavo de Carvalho, não se trata de doutrinação no sentido de ensino sistemático de um corpo de proposições teóricas marxistas demonstradas e encadeadas logicamente; trata-se da transmissão de símbolos, chavões, slogans, mitos, lendas, reações emocionais, vínculos afetivos, etc: trata-se mais de uma iniciação em uma cultura revolucionária do que na formação intelectual marxista.” — Alessandro Cota



fonte:
Laicismo não é marxismo nem ateísmo — Medium

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