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Tiradentes- a verdadeira história

Plínio Tomaz*

Segundo o escritor francês Balzac, há duas histórias: a Oficial, que é mentirosa e a Verdadeira, que é secreta. Com a abertura democrática de nosso país, cada vez mais vamos sabendo de coisas que são diferentes daquelas aprendidas na escola. Uma delas é a respeito de Tiradentes. Tiradentes não usava nem barba e nem bigode. Esta imitação de Cristo, foi feita há tempos e sacramentada através da Lei Federal 4897 de 1966 pelo presidente Castelo Branco, quando foi definido a imagem com barba e cabelos longos de Tiradentes.
Poucos sabem que Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, era maçom, bem como quase a totalidade dos líderes do movimento de independência. O movimento de independência tinha como caráter principal três províncias do Brasil, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, sendo que o resto do país deveria acompanhar as três províncias citadas.
A Inconfidência Mineira começou em Vila Rica, que era a cidade mais rica de Minas Gerais, tendo uma vida praticamente européia com orquestras, teatros e grupos literários.
Em 1756 houve um grande terremoto em Portugal que destruiu quase que toda a cidade de Lisboa. E quem arcou com os custos foi o Brasil, pois o Marques de Pombal impôs uma cobrança sobre o ouro de 1/5 sobre o peso do mesmo que deveria ser mandado a Portugal por um prazo de 10 anos consecutivos. Como sempre no Brasil, tudo que é definitivo é provisório e o que é provisório é definitivo. Assim a cobrança do ouro durou 60 anos.
O que houve foi que as minas de ouro em Vila Rica esgotaram-se e os mineiros não tinham mais como pagar o quinto de imposto. Para piorar, como o ouro estava diminuindo, Portugal estabeleceu uma cota fixa para Vila Rica, devendo ser arrecadado de qualquer maneira 1.500 kg de ouro por ano, não importando a quantidade de produção.
Na verdade ninguém sabe quem foi o verdadeiro líder da revolução, mas não há dúvida que foi um movimento maçônico que lutava pela independência do Brasil, contando com homens como o Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, o engenheiro químico Dr. José Alvares Maciel, o poeta e coronel Inácio José de Alvarenga Peixoto, o poeta e magistrado Tomaz Antônio Gonzaga (autor das Cartas Chilenas e do poema Marília de Dirceu) e outros.
O delator Joaquim Silvério dos Reis sofreu um atentado no Rio de Janeiro e foi perseguido em Minas Gerais. Foi para Portugal onde foi homenageado e recebeu alta condecoração do governo português, ganhando também uma pensão mensal de 200 mil reis e teve uma vida muito boa. Acompanhou D. João VI quando a família real veio para o Brasil e quando retornou para Portugal.
Tiradentes foi preso em 1789, justamente o ano em que se deu a revolução francesa e quando praticamente nascia a maçonaria no Brasil. Tiradentes usava como desculpa para ir ao Rio de Janeiro, fazer um plano de “puxar água potável” para a cidade.
É quase certo que Tiradentes esteve na França, onde se encontrou com Thomas Jefferson, pedindo ajuda americana para a independência do Brasil. A bandeira dos Inconfidentes, tinha como base um triângulo, que é o símbolo base da maçonaria. A cor vermelha deste triângulo, se deve aos brasileiros que se filiaram a maçonaria na França que era de tendência republicana, enquanto que a maçonaria Portuguesa e Inglesa tinham tendências monarquistas e tinham como símbolo a cor azul. 
O enforcamento de Tiradentes se deu em 1792 no Rio de Janeiro, só que foi tramado que os inconfidentes seriam exilados e que toda a culpa seria somente de Tiradentes, que seria o bode expiatório. A armação foi bem feita e Tiradentes foi substituído por um ator de circo, o Sr. Renzo Orsini, que resolveu fazer o seu último papel, isto é, ser enforcado no lugar de Tiradentes.
Tiradentes depois foi para Portugal, voltando depois ao Brasil e viveu até 1818 quando reinava no Brasil D. João VI, o qual lhe dava uma pensão. O historiador Assis Brasil cita que Machado de Assis, escreveu que Tiradentes morreu de um antraz (bacilo infeccioso que produz pústula maligna) e morava no Rio de Janeiro, na antiga Rua dos Latoeiros, que ficava entre a Rua do Ouvidor e Rosário, em uma loja de barbeiro, sendo que Tiradentes era dentista e sangrador (uso antigo de sanguessugas e sangramento), cuja abertura de negócio se deu em 1810 a conselho do próprio D. João VI.
Com o malogro da conspiração dos mineiros a maçonaria brasileira, muito sabiamente ficou quieta até melhor oportunidade, reaparecendo na Revolução Pernambucana de 1817 e que também fracassou. Novamente em 1822, a mesma proporcionou a Independência do Brasil.
Como se pode ver, a história Verdadeira é bem mais interessante, embora muitas vezes por comodismo optamos pela história Oficial.




(*) Engenheiro, vide http://pliniotomaz.com.br

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